quinta-feira, 19 de julho de 2007

CITAÇÃO TEXTO JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO - 18.07.2007

"JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO"

Autor: LAURA CAPRIGLIONE E VINICIUS QUEIROZ GALVÃO
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Quando: 18/07/2007

TEXTO: Funcionária salta para fugir do inferno Segundo os bombeiros, a temperatura no prédio da empresa chegou a 1.000ºC, no momento de intensidade máxima Da av. dos Bandeirantes, por trás da pista do aeroporto de Congonhas, a fumaça negra era visível mesmo na escuridão da noite


Por volta das 19h de ontem, uma funcionária uniformizada da TAM Express, em desespero, jogou-se do edifício que fica no número 7.305 da avenida Washington Luís. O prédio tinha acabado de ser atropelado na lateral pelo Airbus A320. Labaredas começavam a subir, acompanhadas por uma grossa coluna de fumaça preta que logo enegreceu o céu. A funcionária estava no primeiro andar. Acossada pelo calor e pela fumaça do prédio em chamas (segundo os bombeiros, a temperatura interna chegou a 1.000ºC, no momento de intensidade máxima), sem conseguir sair do edifício, ela jogou-se de qualquer jeito. Caiu com a cara no chão. O corpo ficou na calçada, imóvel, enquanto as vidraças do edifício estilhaçavam-se sob efeito do calor -os cacos choviam sobre o corpo da funcionária. "Foi horrível. O barulho do corpo batendo no chão eu nunca vou me esquecer", lembra a jornalista da TV Cultura, Laís Duarte. Ela estava no aeroporto de Congonhas fazendo mais uma reportagem sobre a crise aérea. Quando ouviu o estrondo da queda do avião da TAM, correu para o local. A repórter ainda pôde ver a correria das pessoas que, naquela hora de saída do trabalho, lotavam um ponto de ônibus quase defronte ao prédio atingido. "O temor generalizado era que as chamas atingissem um posto Shell que fica a menos de 50 metros de onde acontecia o incêndio." Dois bombeiros e um passante tentaram socorrer a funcionária caída. Precisaram esperar todas as janelas reduzirem-se a cacos no chão. Além da funcionária, outro homem jogou-se do prédio. Muito queimado, estava sem os cabelos e as roupas -tinha o corpo enegrecido. Segundo Laís e o cinegrafista Marcelo Scano, não dava para identificar-lhe a fisionomia. As equipes de resgate demoraram dez minutos para chegar ao local. Mas o desespero na avenida durou bem mais. Da avenida dos Bandeirantes, por trás da pista de Congonhas, a fumaça negra era visível à distância, mesmo na escuridão da noite. Defronte ao 7.305 da Washington Luís, via-se a cauda do avião. Labaredas jogavam uma massa de ar quente no rosto de quem se aventurava pelo local, apesar da noite fria e da chuva que caía. Às 20h, no prédio ao lado, um estrondo. Um cogumelo de fogo subiu bem perto de onde estavam bombeiros, repórteres e curiosos. Foi a primeira de uma série de explosões que acabariam por levar ao desabamento parcial da edificação. Os caminhões-pipa dos bombeiros, em número de 50, não conseguiam dominar as chamas, que, depois da primeira explosão, voltaram a ganhar força. O ar estava tomado por uma mistura de fumaça e pó. As luzes nos postes estavam acesas, mas a atmosfera carregada impunha o breu. O ar sufocante com cheiro de borracha queimada embrulhava o estômago. Dois bombeiros carregavam uma maca com o corpo da primeira vítima retirada dos escombros. Estava chamuscado e parecia ter morrido em posição fetal. Foi embrulhado em uma espécie de papel de alumínio e depois recoberto por um plástico. A pista da Washington Luís tinha 36 macas perfiladas à espera de novas vítimas. Ali ao lado, no saguão do aeroporto, uma enorme fila -como nunca vista nas sucessivas crises aéreas- lotava a área do check-in em direção ao balcão da TAM. Mas a única voz que se ouvia era a do alto-falante que anunciava o fechamento do aeroporto. Da parte dos passageiros, silêncio absoluto...

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